Se a vida fosse só isso, seria feliz.
Pegar um livro, sentar ao sol, num terraço.
Olhar para essa milhares de casas, para estas paredes de tijolo a vista, com a visão obstruída por fios da rede elétrica e estes com mais rabiolas que eletricidade.
Ouvir o barulho do caminhão de lixo manobrando, das rabiolas ao sabor do vento, dos gritos das crianças…
Um cachorro – chamado Leão – vem deitar-se ao pé de mim, simplesmente pelo prazer da minha companhia.
Ele não me pede nada.
Eu não lhe peço nada.
Porém, ele poderia se chamar Cachorro, para o mundo ser mais perfeito.
Para o mundo ser mais perfeito, tenho que ser alheio a isso e tudo.
Não pensar na fome dentro das paredes de tijolo a vista, não pensar nas crianças, nem nas mudas nem nas telepáticas.
Não pensar na raiva quando a pipa prende no fio, nem pensar no lixeiro trabalhando no sábado.
Mas não, desgraçadamente, o cachorro se chama Leão.
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