Ciência com Consciência – Edgar Morin

Este texto foi produzido a partir da leitura do texto Ciência com Consciência de Edgar Morin

A problemática da noção de progresso e a problemática da noção de conhecimento.

A noção de progresso comumente aceita é a de crescimento, linear, quantitativo e também qualitativo no sentido de trazer melhorias. Ex., o crescimento econômico, que traz progresso, mas o autor chama atenção para um limiar em que o progresso pode não ser benéfico, pode gerar subprodutos indesejáveis ou estes subprodutos acabam se tornando os produtos primários.

Na análise de Morin uma pergunta se faz essencial, por que não consideramos, nas esferas humanas e sociais, a ideia de progresso compartilhada pela própria natureza?

Buscamos no princípio entrópico a noção de progresso (evolução natural) do mundo físico, ou seja, o universo evolui, como um todo, seguindo a degeneração (fator qualitativo de atribuição humana), a desordem, embora localmente o contrário possa acontecer. A vida seguem o mesmo caminho, quando segue sua tendência natural a degeneração. Para Morin devemos rever nossa noção de progresso. Propõe então um “Progresso na ideia de Progresso” para sua forma complexa e não comumente aceita, como linear, simples e irreversível.

Para abordar a problemática do conhecimento propõe uma hierarquização entre Sabedoria, Conhecimento e Informação e sendo assim, trabalha essencialmente com a contraposição destes dois últimos termos.

Conhecimento é mais que informação, para se atingir o conhecimento é preciso informação, mas não é só isso. É preciso estruturas teóricas para comportar essa informação. Quando possuímos demasiadas informações e uma estrutura que não as suporte nos sentimos perdidos em um mar de informações desencontradas. Muitas vezes sentimos isso ao ler um jornal, por exemplo.

Uma análise possível desse contraponto é pela via da contraposição entre o homem do século XVII e o homem do século XX, os primeiros possuíam uma quantidade de informação limitadas a respeito de seu mundo e desta forma podiam articular suas relações para atingir algum conhecimento, o homem do século XX possui uma miríade de informações e uma capacidade limitada de articulação e processamento. Neste ponto eu poderia usar uma frase que venho dizendo muito ultimamente: “Maldita internet que faz que tenhamos a atenção de um esquilo!”, tenho percebido particularmente isso em mim, mas não creio que seja o único, este efeito de simultaneidade da internet, essa possibilidade infinita, esse apelo midiático que recebemos pode dificultar enormemente a capacidade de concentração e atenção (para me concentrar em um texto curto como este está sendo um parto!).

Muita informação obscurece o conhecimento, sendo assim, temos no conhecimento a mesma complexidade que temos no progresso.

O Problema do conhecimento científico

Edgar Morin parte para uma análise do conhecimento particularmente científico, reconhecendo certos avanços teóricos e técnicos que os últimos séculos nos trouxeram neste campo, contudo ele diz que ao ganharmos algumas certezas (científicas) perdemos outras. Sabemos onde nos situar na galáxia, no sistemas solar e na evolução da Terra, mas ganhamos a incerteza do sentido (se existe algum) de tudo isso e suas relações dialéticas com nossa existência.

O afastamento das explicações místicas

Se retrocedermos no tempo, podemos nos deparar com explicações místicas bem próximas a nós mesmo, pessoas, e, conforme se avança no tempo na direção do presente temos que progressivamente afastar tais explicações. Em um determinado tempo elas estão numa determinada civilização, e fala-se – deus criou nosso povo. Mais a frente, quando as origens dos diferentes povos são razoavelmente conhecidas (pela ciência), afastamos as explicações para – deus criou o nosso planeta, e com essas explicações vem uma série de implicações, como, por exemplo, o planeta ser o centro do universo e outras. Pulando alguns graus desta escala, chegamos ao tempo atual onde as explicações de origem já não estão no planeta, nem no sistema solar, nem na galáxia, já não sabemos quão distante está de nós. Certo é que cada vez mais vamos afastando, de nós, o poder da criação.

Progressivo-regressivo

Edgar Morin propõe um caracter progressivo-regressivo ao progresso da ciência. Um ponto trabalhado por ele é na fragmentação do conhecimento, na especialização. Se por um lado existe um progresso na especialização, no desenvolvimento de um determinado trabalho, de um determinado conhecimento, existe também um regresso fragmentário do conhecimento como um todo, pela dificuldade de conectar os diferentes temas, as diferentes áreas.

Outro ponto que aponta para o lado regressivo deste conhecimento está na quantificação deixando de lado as qualidades, um dos exemplos aventados pelo autor consiste nas apresentações teóricas de alguns cientistas que regressam ao platonismo na idealização de seus modelos como se o real tivesse que se enquadrar ao modelo matemático e não o contrário.

Um corte importante foi operado por Descartes no século XVII, a separação entre o Ego cogitans e a Res extensa, que nada mais é que uma ruptura entre ciência e filosofia. Isso pode ser trágico, pois a ciência se torna uma atividade irrefletida e a filosofia deixa de ser alimentada empiricamente, caminhando juntas elas seriam mais fortes.

O importante parece ser a percepção da complexidade envolvida na noção de progresso do conhecimento, ele não é mais a ideia ingênua de progressão linear e continua, e passa a possuir uma relação dialética com seus produtos, com sua regressão possível e com a abordagem utilizada.

6 comentários

  1. Oi Osvaldo!

    Gostei muito do seu blog!

    Sou Geógrafa, Terapeuta em Medicina Oriental e mestranda em Epistemologia. Talmbém trabalho num projeto de Extensão com Comunidades tradicionais Caiçaras.

    Voltarei mais vezes, e comentarei teus textos com mais cuidado!

    Karen.

    Curtir

  2. Olá bom dia!!! Gostei muito do seu texto. Ele me ajudou a compreender melhor o livro e até pude perceber alguma relação com o livro de Milton Santos “Por uma outra Globalização”. Obrigada mesmo.

    Curtir

Deixe um comentário